ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM: 97 ANOS DE REPRESENTAÇÕES E LUTAS PELA PROFISSÃO
Em 12 de agosto de 1926, no Rio de Janeiro, um grupo de enfermeiras criou a Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas, que em 1954 se tornaria a atual Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn). Seu objetivo era “defender e consolidar a Educação em Enfermagem, a Enfermagem como prática social e a investigação científica”.1
Nesses 97 anos, a ABEn tem expandido seu alcance, com representantes em seções em todos os estados do Brasil. Sua missão busca defender a consolidação da profissão e fortalecê-la em seus aspectos educacionais, científicos, políticos e sociais. Também busca a articulação com outras entidades, para promover as categorias de Enfermagem, com objetivo de firmá-la como uma profissão que defende e promove a melhoria da qualidade de vida da população e o acesso aos cuidados de saúde.2
Há uma preocupação constante da ABEn em promover o crescimento profissional da categoria e oportunizar a confraternização da Enfermagem e, neste intuito, temos os eventos nacionais e locais, os departamentos e comissões, bem como suas publicações.
Entre os eventos realizados anualmente, destaca-se a Semana Brasileira de Enfermagem (SBEn), comemorada em todas as seções estaduais; o Congresso Brasileiro de Enfermagem (CBEn), dentro do qual ocorre o Colóquio Latino-Americano de História da Enfermagem (CLAHEn) e o Seminário Nacional de Diretrizes de Enfermagem na Atenção Básica em Saúde (SENABS).
Há também o Seminário Nacional de Diretrizes para Educação em Enfermagem (SENADEn), o Simpósio Nacional de Diagnósticos de Enfermagem (SINADEn) e o Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem (SENPE), que ocorre simultaneamente ao Seminário Internacional de Pesquisa em Enfermagem (SINPE).
Esses são os eventos em que enfermeiros de todas as regiões contribuem para fortalecer a profissão. Mas ainda ocorrem outros, local e regionalmente, que proporcionam aos profissionais de Enfermagem momentos de compartilhar experiências e trocas de saberes, dentro das realidades de suas regiões e de suas comunidades.
Os departamentos, comissões e comitês são espaços estratégicos de estudo e atuação, alcançando progressivamente segmentos importantes dentro das possibilidades da entidade. Neste sentido, temos o Departamento Científico de Enfermagem Gerontológica, o Departamento de Atenção Básica, o Departamento de História da Enfermagem, o Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental e a Comissão Permanente de Sistematização da Prática de Enfermagem (COMSISTE). A participação estudantil se dá por meio do Comitê Estudantil Nacional (COEST).
Nessa dinâmica, a ABEn Seção Amazonas foi sede de vários desses encontros, inclusive de edições do CBEn, como em 1971, 1981 e 2019, além do SENPE, em 2021. Ainda esperamos proporcionar aos profissionais do estado a possibilidade de um espaço para discussões teóricas e práticas da Enfermagem, bem como a oportunidade de contato com colegas de outros estados, contribuindo ao fortalecimento das categorias, frente aos desafios da prestação de uma assistência de qualidade e segura.
Os registros fotográficos e de matérias jornalísticas do XXIII CBEn, ocorrido em Manaus no ano de 1971, demonstram uma participação bastante diversa de público em sua abertura, realizada no Teatro Amazonas3, o que possibilitou uma grande visibilidade da Enfermagem como profissão e ciência, além de apoiadora e incentivadora da cultura, sociedade e arte da região (Imagem 1).
Figura 1 – Fotografia da abertura do XXIII CBEn, no Teatro Amazonas, em Manaus-AM, em 1971
Fonte: Acervo da Associação Brasileira de Enfermagem Seção Amazonas (ABEn-AM).
Foi registrada a presença da Presidente da ABEn Nacional, Enfa Amália de Corrêa de Carvalho e de Clarice Ferrarini, Secretária Executiva à época3. A ampla divulgação midiática, contou com fotografias das participantes chegando ao Aeroporto Internacional de Ponta Pelada.
Houve também a presença de enfermeiras representantes de vários estados do Brasil, como Terezinha Borges, Diretora da Escola de Enfermagem de Minas Gerais; Maria de Lourdes Valentino Rebêlo, que ocupava o cargo de Chefe de Enfermagem do Instituto Nacional de Previdência Social; Zélia Vasconcelos, como Secretária de Saúde de São Paulo; Celina Arruda, representante de Belém do Pará; e Wanda de Aguiar Horta, da Universidade de São Paulo, que desenvolveu a Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Assim, durante sete dias, Manaus foi um local de encontros e debates sobre a Enfermagem no Brasil.4,5
Além disso, há relatos da vinda de representantes do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Guanabara, Ceará, Piauí, Maranhão, Bahia e Brasília. O fluxo intenso de participantes teve apoio da Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos, bem como da Viação Aérea Rio Grandense (VARIG), que disponibilizou um avião fretado especialmente para o XXIII CBEn.6
A presidente da ABEn Seção Amazonas era a Enfa. Davina Dayse Riker, apoiada por Madalena Daou, Ana Maria Ribeiro de Souza e Maria do Rosário Silva Lima, membras da Comissão de Divulgação, que registrou a participação de mais de 500 enfermeiros de todo o país.7,8
O XXIII CBEn também homenageou a Enfa Josephina de Mello (Imagem 2), um dos nomes de referência à profissão no estado do Amazonas e professora da Escola de Enfermagem de Manaus, agraciada com o prêmio “Enfermeira do Ano”, durante a abertura do evento, sendo divulgada uma nota no Jornal do Comércio, convidando toda a população amazonense a participar do conclave e da condecoração.9
A Enfa Josephina de Mello foi uma profissional que se destacou não somente na luta pela assistência à saúde na Região Amazônica, mas pela defesa da profissão, recebendo em sua carreira diversos prêmios, entre eles a Medalha “Mérito Oswaldo Cruz”, em 1978, conferida pelo presidente General Ernesto Geisel, por indicação do Ministro da Saúde.10,11
Figura 2 – Fotografia da Enfa Dra. Josephina de Mello, durante o XXIII CBEn, realizado em Manaus-AM, em 1971
Fonte: Acervo da Associação Brasileira de Enfermagem seção Amazonas (ABEn-AM).
Preservar e revistar essas memórias possibilita compreender a evolução da Enfermagem na Região Norte e no Brasil, bem como aponta representações que compõem o desenvolver de uma época, de uma sociedade e da profissão. Como apontou Maia (2021, p. 2)12,
[…] a Enfermagem se fortalece ao trazer a luz toda sua historicidade imprimindo novas dimensões de saberes e práticas com diversidade de visões do mundo e da ciência, contribuindo para a consolidação de metodologias de investigação histórica e fundamental para a construção crítica e inferência historiográfica, tornando a escrita da história significativa para a Enfermagem e a saúde, apontando rupturas, transformações e lutas/resistências, saberes e poderes e traga a luz ao cuidado e suas práticas […].
Em nosso estado, a história da ABEn Seção Amazonas (ABEn-AM) visa defender suas categorias frente aos órgãos governamentais e quanto a outras necessidade; promover o acesso a uma educação em Enfermagem em instituições de ensino comprometidas com uma assistência de qualidade e segura; organizar cursos, seminários e eventos direcionados aos profissionais e acadêmicos da área; e incentivar a pesquisa em todas as diversas possibilidades relacionadas à Enfermagem.
Portanto, nessa data de comemoração dos 97 anos de fundação da Associação Brasileira de Enfermagem, celebramos as conquistas e representações que foram alcançadas, ciente de que ainda há muito a ser defendido e almejado, para que possamos desenvolver e consolidar a profissão com o respeito merecido. Parabéns, ABEn!
Nair Chase da Silva
Presidente
Associação Brasileira de Enfermagem Seção Amazonas (ABEn-AM)
Docente da Universidade Federal do Amazonas
Sibila Lilian Osis
Departamento de História da Enfermagem da ABEn-AM
Aluna de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Educação – PROPED/UERJ
Núcleo de Ensino e Pesquisa em História da Educação – NEPHE
Bolsa de Doutorado pelo CNPQ
Docente da Universidade do Estado do Amazonas
Referências
- SILVA, Silvio Eder Dias da et al. Associação Brasileira de Enfermagem: as representações sociais dentro das pesquisas em enfermagem no contexto atual. Journal of Health & Biological Sciences, v. 6, n. 3, p. 342-346, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v6i3.1754.p342-346.2018.
- ABEN-AM. Associação Brasileira de Enfermagem Seção Amazonas. Disponível em: https://aben-am.org.br/aben-am/. Acesso em: 8 ago. 2023.
- CONGRESSO DE ENFERMAGEM ABRE INSCRIÇÕES. Jornal do Comércio, nº 20.742, 8 jul. 1971, p. 1.
- CHEGAM AS ENFERMEIRAS. Jornal do Comércio, nº 20.743, 9 jul. 1971, p. 2.
- ENCERRADOS SIMULTANEAMENTE OS DOIS CONGRESSOS: MEDICINA E ENFERMAGEM. Jornal do Comércio, nº 20.751, 18 jul. 1971, p. 2.
- CONTINUAM CHEGANDO DELEGAÇÕES AO CONGRESSO DE ENFERMAGEM. Jornal do Comércio, nº 20.745, 10 jul. 1971, p. 2.
- DE FRENTE DE PERFIL. Diploma para o JH e Barahuna. Jornal do Comércio, nº 20.752, 20 jul 1971, p. 3.
- DE FRENTE DE PERFIL. Congresso de Enfermeiras. Jornal do Comércio, nº 20.572, 10 dez. 1970, p. 3.
- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM SEÇÃO AMAZONAS. Convite. Jornal do Comércio, nº 20.745, 11 jul. 1971, p. 1.
- SILVA, Nair Chase da; FIGUEREDO, Led Daianna Fernandes de. A trajetória da enfermeira Josephina de Mello nas dimensões do processo de trabalho em Enfermagem. História da Enfermagem: Revista Eletrônica (HERE), v. 14, p. e04-e04, 2023. DOI: https://doi.org/10.51234/here.2023.v14.e04.
- ARAÚJO, Cassia Camila de Oliveira; OSIS, Sibila Lilian; PERDOMO, Selma Barboza. Resiliência e resistência de uma intelectual negra na Enfermagem do Amazonas. Jornal Pensar a Educação, 17 de setembro de 2021. Disponível em: https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/resistencia-e-resiliencia-de-uma-intelectual-negra-na-enfermagem-do-amazonas/. Acesso em: 8 ago. 2023.
- MAIA, Ana Rosete. Desafios para uma escrita da História de Enfermagem Contemporânea. História da Enfermagem: Revista Eletrônica (HERE), v. 12, n. 2, p. 1-2, 2021. DOI: https://doi.org/10.51234/here.21.v12n2.ed.
